ESG, direitos humanos e gênero: a atuação dos RHs na construção de ambientes corporativos inclusivos e responsáveis

  1. Introdução: ESG no centro da estratégia
    ESG, direitos humanos e gênero deixaram de ser pautas periféricas. Hoje são eixos centrais
    da estratégia empresarial responsável. O “S” do ESG exige ambientes de trabalho justos,
    seguros, diversos e alinhados à dignidade humana. Pressões sociais, regulações
    internacionais e expectativas de consumidores e investidores colocam o RH em posição
    estratégica. Segundo a PwC (2023), 79% dos consumidores esperam que marcas se
    posicionem sobre temas sociais. Além disso, os Princípios Orientadores da ONU exigem
    due diligence em direitos humanos, e o RH é peça-chave na prevenção, mediação e
    reparação de impactos negativos nas relações de trabalho. Cultura organizacional,
    reputação e sustentabilidade não se constroem com discursos, mas com ações concretas.
  2. Direitos humanos nas relações de trabalho
    Direitos trabalhistas são, por definição, direitos humanos. Estão assegurados no artigo 23
    da Declaração Universal e no artigo 7o do Pacto Internacional de Direitos Econômicos,
    Sociais e Culturais (Decreto 591/92). A Constituição Federal os reforça como base do
    Estado Democrático. No entanto, desigualdades estruturais persistem: mulheres negras
    recebem, em média, 46% do salário de homens brancos (IBGE, 2023); pessoas com
    deficiência enfrentam o dobro da taxa de desemprego (IPEA); e um em cada quatro
    trabalhadores sofre discriminação no ambiente profissional (OIT, 2022). O RH tem a
    responsabilidade legal, ética e estratégica de prevenir violações e reparar danos, em
    alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 5, 8 e 10), contribuindo
    para ambientes mais justos, equitativos e centrados na dignidade.
  3. Gênero e interseccionalidade
    Falar de gênero no trabalho exige uma lente interseccional. Desigualdades não operam
    isoladamente. Raça, classe, deficiência, identidade de gênero e orientação sexual se
    cruzam e ampliam barreiras de acesso, permanência e ascensão. Mulheres negras,
    indígenas, trans e com deficiência enfrentam múltiplos bloqueios. No Brasil, mulheres são
    45% da força de trabalho e ocupam 38,8% dos cargos de liderança, acima da média do G20
    (30,58%) (Exame, 2024). Ainda assim, nos altos cargos, a presença feminina cai, e elas
    ganham, em média, 21% a menos que os homens (IBGE, 2023). Globalmente, só 10,4%
    das empresas da Fortune 500 têm CEOs mulheres (Fortune, 2024). Incorporar a
    interseccionalidade ao ESG é agir com justiça social e sustentabilidade. O RH deve usar
    KPIs que cruzem gênero e marcadores sociais, revisar políticas e criar pertencimento real.
    Diversidade sem inclusão é fachada.
  4. Boas práticas e ferramentas no RH
    A transformação exige compromisso com resultados mensuráveis. Empresas como Natura
    e Grupo Boticário adotaram metas públicas de diversidade, integrando raça, gênero e PCD
    nos planos de sucessão e liderança. Ferramentas como a Avaliação de Maturidade em DEI

(GPTW Diversidade) e indicadores como o Índice de Permanência de Grupos Minorizados e
a Taxa de Promoção Cruzada ajudam a medir avanços e identificar lacunas. Outras
iniciativas envolvem recrutamento afirmativo, políticas de promoção equitativa e educação
continuada em diversidade, equidade e inclusão para lideranças e HRBPs. Apesar disso,
68% das empresas brasileiras ainda não possuem processos eficazes para tratar denúncias
de violações de direitos humanos (Fundação Dom Cabral, 2023). Soma-se a isso a
ascensão de uma retórica anti-ESG e anti-woke, que busca deslegitimar avanços em
diversidade, equidade e justiça social. Trata-se de uma reação conservadora que exige
vigilância e respostas fundamentadas, jurídicas e institucionais.

  1. Olhar para o futuro
    Construir ambientes corporativos inclusivos e responsáveis é uma tarefa contínua, coletiva
    e estratégica. As lideranças moldam a cultura organizacional, impactando diretamente a
    saúde, a motivação e a permanência dos talentos. Em muitas empresas, o ESG ainda é
    tratado de forma isolada, sem articulação entre áreas. O RH pode e deve ser o elo que
    conecta propósito, estratégia, pessoas e impacto. É hora de refletir: como transformar
    valores em políticas concretas? Como alinhar o trabalho diário ao bem comum e à
    sustentabilidade humana? Organizações visionárias já estão se movendo. Cabe ao RH
    assumir o papel de guardião da cultura ética, inclusiva e transformadora, apoiando a
    transição para um futuro mais justo, regenerativo e sustentável.

Artigo escrito de forma colaborativa por participantes do grupo de estudos de ESG,
promovido pela ABRH no 1o semestre/2025. São co-autores deste artigo:
● Amanda Dorta (Especialista em Sustentabilidade)
● Camila Silva Soares Vieira (Psicóloga, Coach, CEO da Alia Talent,
Palestrante, +16 anos em multinacionais e startups nas áreas de RH)
● Cassiana Buosi (Consultora e Educadora de Futuros Regenerativos e
Liderança Regenerativa na Nortus – Instituição de Desenvolvimento Humano,
Organizacional e Global)
● Marden Galante (Psicanalista, mentor, conselheiro consultivo e engenheiro
com mais de quatro décadas em posições de liderança em tecnologia e
gestão. Especialização em Sustentabilidade pela Paris 1
Panthéon-Sorbonne, atua na articulação entre saúde psíquica, cultura
organizacional e responsabilidade socioambiental.)
● Mauricio Pazos (Engenheiro, Carreira construída em Consultoria e
Posições de Liderança na área de RH. Consultor em Estratégia de Recursos
e Coach)

Referências:

  1. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos
    Humanos. Paris, 1948. Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/UDHR. Acesso em: 28 jul.
    2025.
  2. BRASIL. Decreto no 591, de 6 de julho de 1992. Promulga o Pacto
    Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Diário Oficial da União: seção 1,
    Brasília, DF, 1992.
  3. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Global Report on
    Discrimination. 2022. Disponível em: https://www.ilo.org. Acesso em: 28 jul. 2025.
  4. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).
    Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE,
  5. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 28 jul. 2025.
  6. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Inclusão de
    Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho. Brasília: IPEA, 2022. Disponível em:
    https://www.ipea.gov.br. Acesso em: 28 jul. 2025.
  7. PwC. Global Consumer Insights Pulse Survey. 2023. Disponível em:
    https://www.pwc.com/gx/en/industries/consumer-markets.html. Acesso em: 28 jul. 2025.
  8. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Princípios Orientadores
    sobre Empresas e Direitos Humanos. Nova York: ONU, 2011. Disponível em:
    https://www.ohchr.org. Acesso em: 28 jul. 2025.
  9. EXAME. Desigualdade salarial entre homens e mulheres em cargos de
    liderança. Exame, São Paulo, 2024. Disponível em: https://exame.com. Acesso em: 28 jul.
    2025.
  10. O GLOBO. Brasil tem mais mulheres na liderança do que média do G20. O
    Globo, Rio de Janeiro, 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: 28 jul.
    2025.
  11. VALOR ECONÔMICO. Participação feminina na força de trabalho. Valor
    Econômico, São Paulo, 2024. Disponível em: https://valor.globo.com. Acesso em: 28 jul.
    2025.
  12. McKINSEY & COMPANY. Women in the Workplace 2024. Disponível em:
    https://www.mckinsey.com. Acesso em: 28 jul. 2025.
  13. WORLD ECONOMIC FORUM. Global Gender Gap Report 2024. Genebra:
    WEF, 2024. Disponível em: https://www.weforum.org/reports/global-gender-gap-report-2024.
    Acesso em: 28 jul. 2025.
  14. FUNDAÇÃO DOM CABRAL. Pesquisa sobre Direitos Humanos nas
    Empresas Brasileiras. Belo Horizonte: FDC, 2023. Disponível em: https://www.fdc.org.br.
    Acesso em: 28 jul. 2025.
  15. GREAT PLACE TO WORK. Guia de Diversidade, Equidade e Inclusão 2023.
    São Paulo: GPTW, 2023. Disponível em: https://gptw.com.br. Acesso em: 28 jul. 2025.
  16. DIVERSITERA. Estudo sobre desigualdade de gênero e promoção. Exame,
    São Paulo, 2024. Disponível em: https://exame.com. Acesso em: 28 jul. 2025.
  17. INVESTOPEDIA. Women in Executive Leadership 2024. Nova York, 2024.
    Disponível em: https://www.investopedia.com. Acesso em: 28 jul. 2025.
  18. FORBES BRASIL. Por que as mulheres ainda são minoria na liderança
    mundial. São Paulo, 2024. Disponível em: https://forbes.com.br. Acesso em: 28 jul. 2025.
  19. FORTUNE. Women CEOs in the Fortune 500. Fortune, 15 maio 2024.

    São Paulo, 13 de outubro de 2025