Segurança Psicossocial é Direito: O RH e a Nova Responsabilidade com Grupos Sub-representados

  1. Introdução
    A segurança psicossocial tornou-se uma responsabilidade legal e estratégica das empresas, especialmente das áreas de RH. A nova NR-1, em vigor desde maio de 2025, exige que organizações mapeiem, mitiguem e previnam riscos psicossociais no trabalho.
    O cenário chama atenção: 30% dos trabalhadores apresentam sintomas de burnout, mais de 40% relatam queda de produtividade por questões emocionais, e 470 mil afastamentos por transtornos mentais foram registrados em 2024. Grupos sub-representados, como mulheres, pessoas negras e LGBTI+, são ainda mais afetados. Em paralelo, jovens profissionais, que representarão a maioria da força de trabalho até 2030, priorizam propósito e segurança emocional. Tudo isso faz com que o momento seja decisivo para que o RH assuma a liderança na construção de culturas organizacionais inclusivas e saudáveis.
  2. Desafios Estruturais
    Para pessoas de grupos sub-representados, o ambiente de trabalho ainda é, com frequência, um espaço de tensão. Os desafios vão dos mais sutis, como microagressões e silenciamentos, aos mais explícitos, como violência verbal ou física. Muitos desses obstáculos são estruturais, como ambientes sem segurança psicológica, planos de desenvolvimento que desconsideram perfis diversos, canais de denúncia pouco confiáveis e carência de dados sobre grupos sub-representados. Quando essas barreiras não são enfrentadas de forma estratégica, o resultado é uma cultura de exclusão, que afeta não só as oportunidades, mas também a saúde mental de pessoas de grupos sub-representados. É justamente neste ponto, na revisão de políticas, processos e acessos e na promoção da segurança psicossocial, que mora a oportunidade para a ação estratégica do RH.
  3. O Papel Estratégico do RH
    Neste cenário, o RH torna-se guardião da segurança psicossocial. Para agir com estratégia, as oportunidades de atuação são múltiplas. Em conformidade com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o RH deve implementar canais confidenciais de escuta.

3 Ministério da Previdência Social (2024). Disponível em:
https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2025/03/10/crise-de-saude-mental-brasil-tem-maior-n
umero-de-afastamentos-por-ansiedade-e-depressao-em-10-anos.ghtml

2 Pesquisa Global de Atitudes sobre Benefícios (2024); Disponível em:
https://exame.com/carreira/estudo-mostra-que-43-dos-funcionarios-tem-ansiedade-ou-depressao-aon
de-esta-o-problema/

1 Associação Nacional de Medicina do Trabalho (2023). Disponível em:
https://jornal.usp.br/radio-usp/sindrome-de-burnout-acomete-30-dos-trabalhadores-brasileiros/

com consequências institucionais. Outro ponto importante é a formação contínua de lideranças empáticas e conscientes do impacto da diversidade e do trauma institucional. Nesse novo paradigma, o RH deixa de ser mero executor e assume papel ativo na saúde mental coletiva e na construção de ambientes seguros, diversos e equitativos. Para isso, a inclusão precisa estar no centro da estratégia e da governança, não como ação de marketing, mas como política estruturante.

  1. Boas Práticas
    Quando a diversidade deixa de ser discurso e se transforma em prática, o impacto é sentido por todo mundo. Empresas como a Natura vêm mostrando isso ao criar comitês de diversidade com poder de decisão, onde vozes antes invisibilizadas, agora ajudam a definir caminhos. Na Magazine Luiza metas claras de inclusão, que olham para raça, gênero, deficiência suas intersecções, foram incorporadas ao planejamento de RH, tornando a diversidade parte da estratégia, e não um projeto paralelo Outras organizações têm apostado em programas de acolhimento psicossocial voltados públicos historicamente negligenciados, oferecendo não só escuta, mas também reparação institucional. Há ainda empresas que usam tecnologia para mapear riscos psicossociais e criam comitês de segurança. Os resultados mostram que vale a pena: menos rotatividade, mais pessoas diversas em cargos de liderança e, acima de tudo, colaboradores se sentindo pertencentes valorizados. Empresas que medem e acompanham indicadores de diversidade, têm maio satisfação e engajamento dos colaboradores, afinal, quando o ambiente é mais justo, todo mundo cresce junto.
  1. Conclusão
    A segurança psicossocial é um direito previsto em norma e um compromisso ético com ambientes mais justos. Para o RH, isso significa alinhar cultura organizacional, legislação e práticas inclusivas que acolham todas as identidades.
    Em vez de ações pontuais, trata-se de uma construção contínua, que exige escuta ativa, revisão de políticas e coragem para transformar. Ao assumir esse papel, o RH contribui para ambientes onde a diversidade floresce com respeito e pertencimento.
    O desafio é grande, mas o chamado à ação é claro: transformar a NR-1 em prática diária, priorizando pessoas e construindo ambientes mais equânimes e seguros. Quando isso acontece, todos ganham – pessoas, times e organizações inteiras.
    5 CNN. Disponível em:
    https://www.cnnbrasil.com.br/economia/efeito-magalu-acoes-para-promover-inclusao-devem-virar-ten
    dencia-em-empresas/

    4 Natura. Disponível em: https://esg-scorecard.natura.com.br/category/social/diversidade-e-inclusao

Artigo escrito de forma colaborativa por participantes do grupo de estudos de Diversidade e
Inclusão, promovido pela ABRH no 1o semestre/2025. São co-autores deste artigo:
● Camila Silva Soares Vieira (Psicóloga, Coach, CEO da Alia Talent,
Palestrante, +16 anos em multinacionais e startups nas áreas de RH)
● Danilo Martire Caciavilani (Administrador de Empresas, Comunicador e
Analista de RH especializado em DE&I).
● Marina Dayrell (Especialista e Consultora em Diversidade, Equidade e
Inclusão e Comunicação, Jornalista, Professora e fundadora da Madá
Consultoria de Futuro)
● Rafael Souza (Analista de Recursos Humanos)
● Robert Sena (Consultor em Cultura e Inclusão, Psicólogo e Palestrante)
● Solange Feliciano (Conselheira de Direitos Humanos e Sustentabilidade,
Gerente de RH, Especialista de ESG, D&I , Gestão de Pessoas e
Palestrante)

Referências:
JUSBRASIL. Riscos Psicossociais no Trabalho: como a NR-1 atualizada enfrenta este
desafio. Jusbrasil, 23 jul. 2025. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/riscos-psicossociais-no-trabalho-como-a-nr-1-atualizada
-enfrenta-este-desafio/2986545269. Acesso em: 23 jul. 2025.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Guia de informações sobre os fatores de riscos
psicossociais relacionados ao trabalho – NR-1. Brasília, 2025. Disponível em:
https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/consel
hos-e-orgaos-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora
/normas-regulamentadoras-vigentes/guia-nr-01-revisado.pdf. Acesso em: 23 jul. 2025.