Cultura Organizacional: papel da liderança em meio a tantas faces

Cultura Organizacional é tema frequente entre lideranças, especialmente de RH e DHO, mas ainda cercado por entendimentos distintos. No grupo de estudos da ABRH (1º semestre/2025), aprofundamos reflexões que revelaram múltiplas visões, influenciadas por valores e experiências diversas.

Essa riqueza de olhares reforça uma frase amplamente conhecida de Peter Drucker: “A cultura come a estratégia no café da manhã.” Ou seja, por mais robusta que seja uma estratégia, ela pode ser limitada — ou até inviabilizada — pela força da cultura vigente.

Diante disso, surge a reflexão: precisamos de uma visão mais convergente sobre o tema? Ou a própria multiplicidade de entendimentos já nos ajuda a compreender melhor o mundo real em que vivemos?Talvez seja mesmo improvável que alguém, ao enxergar apenas uma face da questão, consiga perceber e compreender todas as outras que compõem o todo. E reconhecer essa limitação pode ser o primeiro passo para lidarmos com a complexidade da cultura nas organizações. 

O mesmo vale para temas como Diversidade, Pluralidade, Inclusão e tantos outros. Devemos evidenciar que é a cultura que realmente determina como eles são tratados em cada organização. Em algumas de forma mais teórica, em outras mais natural, mas ao final, é a cultura, ou seja, como se vive isso no dia a dia, que determina verdadeiramente como esses temas são tratados ali.

A partir de algumas reflexões desse tipo, propomos que a gente parta então de uma essência comum, ou seja, em vez de uma perspectiva de face, uma perspectiva mais nuclear, que parece permear os diversos discursos e entendimentos. E sabemos que existem diversas teorias e pessoas que pesquisam culturas. Partindo de uma análise bem humanizada, podemos citar a de Humberto Maturana, biólogo, médico e filósofo contemporâneo chileno, falecido em 2021, que define Cultura como a conexão de linguagens (verbais, escritas, não-verbais etc.) com as nossas emoções, que culminam em nossas práticas.

Nossas linguagens + Nossas Emoções = Nossas Práticas

A cultura se dá pela relação, envolvendo essa dinâmica constante entre nosso linguajar e emoções mais profundas — estando conscientes disso ou não. Por isso mesmo, uma cultura não é estática, ela está em constante transformação, mesmo que em doses diárias homeopáticas.

No que tange às emoções, Maturana demonstra, em suas pesquisas ao longo da vida, como emoções como medo, competição, respeito, confiança, entre tantas outras, criam diferentes dinâmicas de convivência.

Logo, a cultura organizacional se dá pela forma como as pessoas convivem, atuam e sustentam comportamentos dentro do ambiente de trabalho. Ou seja, é menos sobre o que está no papel ou é dito, e mais sobre como os relacionamentos — entre tudo e todos — acontecem, na prática. Desta forma, é evidente que quando a cultura de uma organização não está alinhada com o objetivo estratégico, a cultura prevalecerá. Porque a cultura é o que se vive, é o real.

Em nossos encontros, discutimos sobre um estudo apresentado pela GALLUP em 2025, sobre Experiência do Colaborador, o maior estudo contínuo do mundo sobre o tema. Neste estudo, é analisado como as pessoas se sentem em relação ao trabalho e à vida, um importante preditor da resistência e do desempenho organizacional. E foi apresentado que o engajamento está enfraquecendo e que esta queda custou à economia mundial U$ 438 bilhões em perda de produtividade, tendo como causa principal a queda no engajamento dos gestores.

Os dados mostram que as pessoas, especialmente as que atuam em cargos de gestão, estão se sentindo desconectadas. Um dado extremamente preocupante, já que pessoas engajadas são mais produtivas e presentes. E mais: 70% do engajamento das equipes tem um reflexo direto de como a própria pessoa gestora tem se sentido. As lideranças têm papéis extremamente importantes na cultura, pois conduzem as equipes e lidam diretamente com as pessoas.

Líderes são mais do que tomadores de decisões; são grandes responsáveis por facilitar as conversas na organização. Seu papel é observar, sustentar e transformar as emoções e linguagens que acontecem na empresa. São estas as pessoas que afastam ou nutrem a criação de ambientes seguros psicologicamente, que impulsionam ou limitam a cultura desejada. Onde o futuro do trabalho depende da transformação da gestão, investir no time de gestão é de fato bem estratégico.